
Mimosas floridas são o lado belo de uma invasora que veio para ficar
Coimbra, 24 fev 2022.- As mimosas floridas vestem a paisagem de amarelo entre janeiro e abril, mas esta beleza sazonal falseia a capacidade de perturbação ecológica de uma espécie invasora que conquistou extensas zonas do país e veio para ficar.
Com o nome científico “acacia dealbata”, a mimosa é uma árvore originária da Austrália, cuja área de implantação em Portugal, sobretudo no Centro, tem aumentado exponencialmente todos anos.
“Estas invasoras são uma ameaça real para a biodiversidade e para os nossos ecossistemas”, afirmou a bióloga Helena Freitas.
A professora catedrática da Universidade de Coimbra realçou que a acácia possui “uma vantagem competitiva forte”, que lhe permite ganhar terreno à vegetação local que encontra pela frente.
As espécies autóctones “têm uma resposta lenta” nesta disputa. “As mimosas adaptam-se com facilidade às novas condições e aos inimigos que enfrentam no nosso território”, referiu.
Enquanto leguminosas, “têm capacidade de processar o azoto atmosférico”, o que lhes assegura um desenvolvimento mais rápido, fazendo definhar as plantas concorrentes, por escassez de água, nutrientes e exposição solar.
Helena Freitas alertou que “já são muito poucos os nichos de floresta autóctone”, no Centro e noutras regiões onde têm alastrado as manchas de invasoras, como as mimosas e os aliantos (“ailanthus altíssima”).
“Precisamos de uma agenda de restauro da floresta em Portugal. Vale a pena admitirmos que será um processo de prazo longo”, tendo presente a “necessidade de adaptação” às alterações climáticas, defendeu a cientista, que em janeiro assumiu o cargo de diretora do Parque de Serralves, no Porto.
Por sua vez, a diretora executiva da Lousãmel — Cooperativa Agrícola dos Apicultores da Lousã e Concelhos Limítrofes, Ana Paula Sançana, confirmou que o avanço das mimosas é um dos fatores adversos à produção, em quantidade e qualidade, do mel certificado da Serra da Lousã.
“Além da descaracterização da paisagem, mas também da nossa flora e biodiversidade, elas têm vindo a ocupar muitas das zonas que antes eram urzais”, sublinhou Ana Paula Sançana.
As flores das diferentes variedades de urze determinam as características únicas do mel com denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã, que abrange 10 municípios, cabendo a gestão da região demarcada à Lousãmel, com sede na Lousã, no distrito de Coimbra.
Por outro lado, a flor da “acacia dealbata” não é melífera, ao contrário da flor de eucalipto, espécie exótica que tem vindo a revelar também comportamentos de invasora na sequência dos fogos florestais dos últimos anos.
“Não vemos nenhuma inversão desta situação. Em zonas onde houve incêndios, a acácia consegue avançar com mais facilidade do que as outras espécies”, salientou Ana Paula Sançana.
Reconhecendo que “é muito bonito” o espetáculo das mimosas floridas nesta época do ano, a técnica afirmou que “depois é muito complicado e tem custos elevados” o combate à disseminação da espécie.
“Eu gostaria de ver a Serra da Lousã roxa, com as urzes em flor, e não amarela”, concluiu.
O casal José Pais e Paula Oliveira tem uma unidade de turismo em espaço rural, Villa Chanca, no concelho de Penela, e em regime de concessão gere também o Parque de Campismo de Pedrógão Grande, nos distritos de Coimbra e Leiria, respetivamente.
“Daqui a um tempo, os terrenos com mimosas valem zero”, prevê o engenheiro florestal José Pais. Na sua opinião, “o país perde valor e tem custos tremendos” com ações para eliminar estas árvores ou pelo menos atenuar os danos que provocam, na paisagem e na economia do interior, designadamente no turismo, agricultura e outras atividades do setor primário.
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Espécies exóticas invasoras de água doce e sistemas estuarinos: sensibilização e prevenção na Península Ibérica
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